O preconceito e a ignorância dos adeptos de outras religiões tem por hábito julgar os outros segundo o que lhe diz seu sistema, como se as outras pessoas fossem punidas por não seguirem seu mesmo modo de vida. Mas a verdade é que a paz e a felicidade não são monopólios de nenhuma seita ou grupo religioso. Os Satanistas vivem para conhecer a si mesmo e superar seus limites, são indulgentes consigo mesmos, satisfazem seus verdadeiros desejos e aceitam a responsabilidade por cada ato praticado. Existem portanto vários bons motivos para deixar cada Satanista em paz consigo mesmo e feliz por ser quem é. Somos plenamente satisfeitos com nossa condição terrena e sempre procuramos um meio de melhorar aquilo que não estiver de acordo. Na Verdade o hedonismo responsável é uma das chaves para se entender nossa religião.
Mas é preciso frizar que ao contrário da maioria das outras religiões não prometemos a ninguém paz e felicidade eterna. Sofremos sorte e revezes e assim não nos enganamos na ilusão de que qualquer pessoa possa feliz o tempo todo. Não que o Satanismo seja uma apologia ao sofrimento. Este título cabe melhor em outras religiões que vêem pecado no prazer e enxergam a dor como uma virtude. Nosso principal alerta é que na ânsia de seguir os modelos de felicidade definidos pelos outros as pessoas acabam esquecendo de viver os prazeres da vida que realmente desejam e estão ao alcance de suas mãos.
Como Madame Verdurin, descrita em "Em Busca do Tempo Perdido" o Satanista não deve esperar agradar a todos para que se possa ser feliz e como esta elegante mulher imortalizada por Marcel Proust não nos sentimos culpados em ler no jornal sobre o trágico naufrágio do Lusitânia enquanto saboreamos um delicioso croissant no café da manhã. Não se trata de sempre ignorar o sofrimento alheio, mas de aceitar a condição humana. A felicidade não é e nem nunca foi moral, porque a moral varia de tribo para tribo e a felicidade é universal e pode ser experimentada por qualquer pessoa.
As igrejas, a mídia e a sociedade como um todo impõe um modelo padrão de felicidade a ser seguido por todos, e realmente muitos o seguem sem nunca questionar nada. A felicidade tornou-se uma obrigação para muitas pessoas, que se esquecem que todo crescimento envolve algum tipo de angústia. Esquecem-se do exemplo da natureza onde o assassinato é o pré-requisito da nutrição, onde as vezes chove e as vezes faz sol e onde todo parto é doloroso. Da mesma forma, nem sempre o objetivo de nossas vidas é ser feliz, pois a vida não tem um objetivo preestabelecido, mas se altera com a idade, as circunstancias e o momento de cada um.
O Satanismo defende que ninguém deve se sentir culpado, doente ou inferior por não ser feliz da maneira que é popularmente incentivada. A verdadeira paz abrange também a aceitação da angústia, trabalha com ambas as polaridades. É normal ter angústia ou tristeza de vez em quando. E quem quer que diga ser sempre feliz é forte suspeito de mascarar uma tristeza profunda. O importante é aprender a lidar com todos os nosso sentimentos, mesmo aqueles que a princípio rejeitaríamos. Os maus momentos, no final das contas podem nos ajudar a apreciar as ocasiões mais favoráveis.
Conforme coloca Pascal Bruckner, em seu livro "A Euforia Perpétua": "Na sociedade contemporânea a felicidade tornou-se um dever. Quem não entra na corrida por ser feliz é descriminado, é um "cinzentão", um "chato", um inadaptado, alguém que desperdiça a vida, um looser (para usar um anglicismo muito na voga e que bem reflete o atual estado de coisas). A felicidade tornou-se na ideologia dominante. Dizer que não somos felizes, ou que não nos estamos a esforçar nesse sentido, é cometer a maior das heresias. (...) Mas mais importante do que a felicidade, é a alegria de simplesmente estar vivo, de estar aqui na terra para esta aventura efêmera."
Já existem religiões o suficiente oferecendo paz eterna e felicidade interminável. O Satanismo por outro lado oferece vitórias e derrotas, dores e prazeres, lágrimas e sorrisos, pois é isso o que a vida trás para todos nós. Os momentos felizes não teriam significado algum se não existissem os momentos de tristeza. Seriam como calor sem frio e luz sem trevas, ou seja, seriam imperceptíveis e de nada valeriam. Viver feliz para sempre cai bem em contos de fadas, mas não é assim que funciona na vida real. Se for isso que você busca é melhor esquecer o Satanismo, mas não se preocupe nós temos alguns feijões mágicos para lhe vender.
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